"Ambiente corporativo é uma expressão do patriarcado, por ter um DNA machista", afirma sociólogo
- Ketlyn Nascimento, Monique Miranda e Yasmin Naka
- 27 de mar. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de mar. de 2023
Pesquisas indicam que mulheres que ocupam o mesmo cargo e realizam as mesmas tarefas de homens ganham até 34% menos
Por Ketlyn Nascimento, Monique Miranda e Yasmin Naka

Quando o assunto envolve mulheres no ambiente de trabalho, é possível perceber que existe um machismo estrutural, que se torna evidente através de atitudes comportamentais. Piadas sobre TPM, discursos estereotipados e interrupções constantes de falas de mulheres são alguns exemplos. E isso traz prejuízos profundos, segundo o professor Jorge Miklos, sociólogo, psicólogo e coordenador do Observatório Despatriarcando e do grupo de pesquisa Machosfera. Para ele, como esse ambiente incita competição, disputa e concorrência, como forma de defesa, inclusive, "muitas vezes, as mulheres, quando ingressam no mundo corporativo, não conseguem expressar o seu feminino".
A questão de desigualdade de gêneros no mundo do trabalho é visível, inclusive nos dados. Em fevereiro de 2021, por exemplo, a agência de empregos Catho constatou em uma pesquisa salarial que mulheres, mesmo ocupando cargos e realizando tarefas iguais às dos homens, chegam a ganhar até 34% menos do que eles. Em funções como gerente e diretor essa diferença é de 24%. E, segundo pesquisa de 2022, realizada pela FGV, 51,56% das mulheres estavam empregadas em 2021, já entre os homens, o índice era de 71,64%.
"O ambiente corporativo vem de uma questão econômica capitalista, e o capitalismo é uma expressão do patriarcado, é poder, é dominação. Ele tem um DNA machista", analisa Miklos.
Além de questões relacionadas à desigualdade salarial, as mulheres enfrentam dificuldades em conciliar a maternidade com a carreira profissional, por terem dupla jornada de trabalho. E isso faz com que muitas delas sofram preconceitos antes ou após a licença maternidade. É o que indicou a plataforma de empregos InfoJobs, em uma pesquisa realizada em 2021. Na pesquisa 1627 pessoas se identificaram com o gênero feminino, com idade entre 17 e 60 anos, e 86% das participantes afirmaram que sofreram ou acreditam que havia preconceito relacionado à licença-maternidade. Além disso, cerca de 85% das mulheres entrevistadas disseram vivenciar jornada de trabalho dupla no país. Esses dados mostram que ainda não existe um ambiente corporativo que pense na jornada de trabalho das mulheres.

A executiva Fabiana Oliveira compartilha uma situação em que foi vítima de machismo dentro do ambiente de trabalho. "Voltei para a empresa, cumpri minha estabilidade, que era de um mês. Depois, fui demitida com o papo de que eles tinham que reduzir o quadro de funcionários e que a pessoa que estava no meu lugar, na época, já estava mais inteirada das atividades e que eu poderia não contribuir tanto por ter tido um bebê e por, muitas vezes, precisar me ausentar para pediatras ou outras demandas que um bebê pequeno necessitaria”. Segundo Oliveira, em seu trabalho atual, que é no setor do Agronegócio, muitas vezes, homens dizem não haver lugar para mulher no campo, mas sim, na cozinha.
Com a proposta de sanar esses preconceitos sofridos por mulheres há décadas, a ONU Mulheres, uma iniciativa global, criou o projeto “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, que está ligado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5, “Igualdade de Gênero”. Nesse programa é defendido que para: “construir um planeta 50-50 depende que todas e todos – mulheres, homens, sociedade civil, governos, empresas, universidades e meios de comunicação – trabalhem de maneira determinada, concreta e sistemática para eliminar as desigualdades de gênero”.
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