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'Boom' imobiliário impacta o consumo de serviços essenciais na Vila Mariana

Presença de minimercados acompanha diretamente o crescimento de novos núcleos habitacionais no bairro


Gustavo Laureano Pinto

Especial para o EntreFocos

(Supervisão: Prof. Antonio Iraildo Alves de Brito)


Nos últimos anos, a Vila Mariana, um dos bairros mais tradicionais de São Paulo, tem passado por transformações significativas, impulsionadas pela intensa atividade da indústria imobiliária. A crescente oferta de novos empreendimentos habitacionais modificou o panorama urbano, trazendo também mudanças significativas na forma como os moradores do bairro consomem os itens mais essenciais.


Um dos exemplos das transformações que estão acontecendo no bairro é a obra de construção do túnel que ligará as Avenidas Sena Madureira e Ricardo Jafet, alvo de constantes protestos da população local, motivados pelo desmatamento de diversas árvores do canteiro central.


Essas mudanças acompanham o crescimento dos habitantes do bairro. Segundo documentos da prefeitura de São Paulo, o crescimento populacional na Vila Mariana entre os anos de 2000 e 2010 foi de 1%, acima da média municipal. A região também apresentou índices acima da média municipal com relação à densidade habitacional. Isto evidencia uma mudança significativa na configuração habitacional do bairro, impulsionada pela construção de novos edifícios residenciais, que em uma volta despretensiosa pelas ruas, é constatada e está em pleno desenvolvimento. 


O avanço da construção imobiliária predial tem alterado o comportamento consumidor dos moradores. Entre as principais transformações, destaca-se a propagação de minimercados, estabelecimentos que têm se espalhado pelas ruas do referido bairro e de todos os centros urbanos, impactando o cotidiano das famílias e redefinindo suas práticas de compra.


Um dos costumes de muitas famílias era a realização da “compra do mês”, uma compra grande em algum supermercado, que evitaria eventuais saídas ao longo do mês. Com a diminuição do tamanho das casas, o espaço de acondicionamento dos produtos adquiridos é menor, favorecendo compras recorrentes, que necessitam de um lugar comercial mais próximo das residências. Os minimercados, que oferecem economia de tempo, surgiram como uma resposta a essa demanda. 

Oxxo, Minuto Pão de Açúcar, Carrefour Express, Mini Extra. Você já deve ter se deparado com alguns deles em seu caminho. Todas as grandes marcas varejistas têm buscado oferecer opções adaptadas aos novos hábitos de consumo, mostrando uma nítida popularização deste novo modelo de negócios. Apenas na rua Domingos de Morais, você encontra 3 Oxxos, geralmente próximos a lugares bem movimentos, como as saídas do metrô, sem contar as demais marcas e o avanço para dentro dos bairros, não restringindo-se às grandes avenidas.


Prédios ocupam paisagem no bairro, que aos poucos perde as características de vila | Gustavo Laureano Pinto

Além disso, outro fator que colabora para a box êxito destes estabelecimentos é a mudança de rotina da população. Com uma vida mais agitada, transitando entre faculdade, emprego e família, poucas refeições são feitas na residência, necessitando de ser um preparo rápido para não prejudicar em tempo de descanso ou lazer. É o que atesta Júlia, de 24 anos, estudante de Relações Internacionais, que mora em um destes novos empreendimentos da Vila Mariana e faz uso constante dos minimercados: “É uma praticidade muito grande, principalmente entre uma atividade e outra. Dá pra comprar alguma coisa e ir comendo no caminho”, disse a jovem. 


Com horários de funcionamento mais amplos, chegando até a serem 24 horas, e uma gama diversificada de produtos básicos, esses estabelecimentos têm atraído cada vez mais pessoas, pela otimização do tempo e pela praticidade de acesso a alguns itens. Não espere achar de tudo neles, pois a maioria dos itens são ultraprocessados, como constatado pela jornalista em Maíra Mathias, em reportagem para O Joio e o Trigo. Faltam produtos naturais, como frutas e legumes, itens escassos em muitas lojas, contribuindo para uma alimentação menos saudável, o que pode levar a problemas de saúde futuros.  


A expansão dos minimercados levanta questões sobre a concorrência e o impacto sobre o comércio tradicional, o chamado varejo de proximidade, que se refere aos pequenos armazéns e quitandas presentes nos bairros. Com preços muitas vezes mais competitivos e uma estratégia de marketing voltada para a conveniência, os novos estabelecimentos têm desafiado o modelo de negócios das mercearias tradicionais, o que também reconfigura o rosto do bairro. 


Podemos ver como a indústria imobiliária tem um impacto direto no comércio local na Vila Mariana, gerando mudanças profundas no estilo de vida de seus moradores. A expansão dos minimercados representa uma nova era de consumo, marcada pela propaganda de praticidade. No entanto, é essencial que essa transformação ocorra de forma equilibrada, respeitando a história e a identidade do bairro, bem como promovendo um comércio local saudável e sustentável. O desafio está em encontrar um caminho que beneficie a todos, preservando as particularidades de um dos mais charmosos bairros da capital paulista.


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