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Em ano de eleição, FAPCOM promove evento sobre combate à desinformação

Atualizado: 2 de out. de 2024

No 17º Simpósio de Comunicação, especialistas discutem algoritmos, bolhas virtuais, checagem de notícias e a importância da regulação eleitoral da internet

João Galdino, Filipe Pereira, Lavínia Caparroz e Kamilly Neris Especial para a EntreFocos

O 17° Simpósio de Comunicação ocorreu no auditório Pe. Tiago Alberione, na Fapcom | Foto: Heloísa Trindade

Durante os dias 20 e 21 de agosto, a FAPCOM (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação) realizou 17º Simpósio de Comunicação, que abordou a desinformação como estratégia de manipulação do comportamento humano. O evento contou com a presença de alunos, professores e especialistas nas áreas de algoritmos, bolhas virtuais, checagem de notícias e fake news no processo eleitoral, temas que movimentam o trabalho dos comunicadores da atualidade.

No primeiro dia, o professor Alan Angeluci, doutor em Ciência com Ênfase em Sistemas Eletrônicos da USP (Universidade de São Paulo) integrou a mesa “Como os Algoritmos Guiam Nossas Vidas?”. Com o enfoque em três estudos que abordam a percepção de assuntos de interesse público nas redes sociais, Angeluci exemplificou situações em que as pautas são absorvidas por outros tópicos, principalmente quando propagadas por perfis que não são relacionados à imprensa. Segundo o estudioso, essas contas possuem grande influência, o que levanta o alerta da contribuição na desinformação, seja por uso de conteúdo enganoso, sátiras e paródias.

O professor também citou a formação das bolhas sociais que as redes virtuais estimulam e como os mecanismos das Big Techs (empresas de tecnologia) de Comunicação contribuem para a manutenção desses grupos. O principal argumento de Angeluci é de que o acesso à informação democrática também abriu espaços para debates que geram monetização com as bolhas e dentro da ideia da desinformação, o que provoca a falsa sensação de controle sobre o que se consome nas redes digitais, quando, na verdade, há uma mediação constante, “humana e não-humana”, do que é visto com os algoritmos atuando de formas desconhecidas.

O professor Alan Angeluci destacou como algoritmos nas redes sociais podem desviar a atenção de temas relevantes e potencializar a desinformação. | Foto: Monise Souza

Ao ilustrar perfis e comportamentos das plataformas digitais, o pesquisador alertou sobre os fatores éticos que se ausentam na atuação dos algoritmos, uma vez que atendem a interesses maiores do que apenas indicar conteúdos personalizados aos usuários. Também mostrou como algumas redes virtuais possuem um maior fluxo de debate sobre uma pauta, mas que, ao mesmo tempo, não têm a mesma qualidade na relevância do assunto debatido, o que influencia também na maneira que os usuários reagem e recebem o assunto em discussão.

Com a apresentação desses tópicos, o cientista levantou questionamentos dos espectadores acerca de como as mediações responsáveis estão sendo renunciadas nas redes virtuais e como lidar com a opacidade dos algoritmos e a situação da checagem de informações. Destacou ainda a importância do combate a desinformação e o que falta para ser efetivo. “Hoje, a gente já tem condições, no campo da pesquisa, de entender em que cenário estamos. Falta vontade do mundo político para que a gente possa combater e enfrentar de verdade. Porém, é um assunto complexo, pois a desinformação interessa alguns atores políticos e das elites econômicas.”

Na mesma linha de pensamento, o jornalista Wilian Miron, editor de notícias no Broadcast da Agência Estado, do Grupo Estado/Estadão, abordou ideias como o atual cenário jornalístico na era de consumo. Um dos principais pontos levantados pelo especialista é o fato de o leitor desfrutar de um espaço de opinião e liberdade abrangente com o advento das redes sociais, o que não ocorria no jornalismo clássico. “A imprensa não é mais só para quem tem prensa”, afirmou, ao ressaltar a nova realidade, que afeta também a atividade dos jornalistas, por conta da criação de blogs e portais on-line”.

Na avaliação do cientista político, esse contexto tem pontos negativos, pois “outras pessoas, grupos, eventualmente políticos, conseguem fazer a sua página e divulgar as suas informações, às vezes, usando uma roupagem jornalística, com conteúdo que, na verdade, distorce ou até desinforma completamente”. 

Miron ressaltou que o jornalismo profissional é essencial nesse cenário, uma vez que “monta um cardápio de notícias”, organizando as informações mais relevantes e interessantes em um espaço onde todo o tipo de assunto pode ser comentado por qualquer usuário. Para o jornalista, isso exige a credibilidade dos profissionais, alcançada por meio da publicação de notícias baseadas em princípios éticos e técnicos. Mas algumas das barreiras dos profissionais da área são a necessidade de investimento elevado e constante, a concorrência com veículos “não oficiais”, além de o Brasil possuir baixos índices de leitura.

Segundo o especialista, o trabalho jornalístico passa por um processo nas mídias atuais: a “fragmentação”, que seria decorrente do aumento da criação de veículos virtuais independentes por jornalistas que já atuaram na grande mídia. Para evitar a desinformação, Miron defendeu que a prática jornalística deve prevalecer com os seus princípios e valores primordiais, com o dever de criar condições para que os leitores se conscientizem para acessar informações de qualidade em quaisquer meios.

ELEIÇÕES E CHECAGEM - Na manhã da quarta-feira (21), o advogado Diogo Rais, professor e juiz substituto do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) destacou os desafios para combater as fake news nas eleições. Após contextualizar sobre as dinâmicas na atualização da legislação brasileira e abordar a regulação do uso da Internet nas duas últimas décadas, Rais observou as transformações tecnológicas e comportamentais que levam à pós-verdade. “Nos últimos anos, as eleições se tornaram o grande motivo para olharmos para esse fenômeno de transformação da Internet”, afirmou, ao enfatizar que o único órgão capaz de punir os propagadores de desinformação política, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também é alvo de fake news. “Ao julgá-los (os infratores), gera a impressão de vingança e não de justiça”.

Diogo Rais, professor e juiz substituto do TRE-SP. | Foto: Giuseppe Capaldi

Segundo o jurista, desde 2009, ano em que o direito eleitoral passou a atuar em prol da regularização da Internet em época de eleição como forma de combate à desinformação, o TSE produziu mais de cem normas que regulamentam o ambiente digital.  Ainda assim, o professor reforçou a desconfiança por parte da população brasileira que considerou as falsas informações sobre as urnas eletrônicas divulgadas relacionadas ao pleito. 

Ao elucidar as mídias sociais como principais meios de propagação das notícias falsas, o professor afirmou que excluir a Internet para acabar com a desinformação não é o melhor caminho. Segundo o estudioso, o problema das fake news é, na verdade, financeiro, pois quem as propaga ganha dinheiro com a difamação, tornando a desinformação um grande negócio. “As plataformas são quase co-autoras do conteúdo por meio do algoritmo. O mundo se reduziu a sua timeline. A gente também tem responsabilidade como usuário, mas não somos os únicos culpados”, explicou o advogado.

Ao lado do juiz, a jornalista e professora Bárbara Libório, atual diretora de conteúdo do Instituo AzMina, continuou a discussão na mesa “O combate à desinformação nas plataformas digitais”. Especialista na área de checagem de dados, ela compartilhou ideias sobre como combater informações falsas nas mídias sociais e reforçou a importância de conscientizar a população sobre os perigos das notícias enganosas. “A desinformação tira vidas, e a mais perigosa é aquela que gostaríamos que fosse verdade, apesar de não ser. As informações possivelmente credíveis são as mais perigosas”.

A jornalista também tratou sobre a responsabilidade individual na propagação de informações falsas e ressaltou os canais que reforçam esse comportamento social. “Quando recebemos um link em um grupo de WhatsApp, nos tornamos detentores daquela informação, e é de nossa responsabilidade escolher se vamos divulgá-la ou não”.

Na avaliação de Bárbara, esse fenômeno, que não é atual, se tornou ainda mais desafiador na contemporaneidade porque reforça as crenças, os estereótipos e o “viés de confirmação” da sociedade. “Quando a gente fala de gênero e raça, a gente fala de desinformação em um contexto que segue colocando mulheres e pessoas não brancas em caixinhas e lugares que são potencialmente muito danosos e preconceituosos.”

A professora reforçou a importância de o jornalista trabalhar com um olhar mais humanitário, sobretudo para evitar a reprodução das imagens categorizadas. Segundo ela, essa seria uma alternativa para combater a polarização que estimula a linha do discurso de ódio tão comum nas mídias sociais. “Além do nosso trabalho como comunicador, de checar a informação e mostrar que ela existe, há o nosso trabalho como ser humano. Devemos olhar para esses vieses estruturais que a gente tem e se colocar no lugar de combater a desinformação e o discurso de ódio”.

A jornalista destacou a responsabilidade individual na disseminação de informações falsas nas redes sociais. | Foto: Ana Carolina Carvalho

Comitê de eventos do curso de Jornalismo Equipe fotografia: Monise Souza, Gabriel Santos, Ana Carolina Carvalho, Heloísa Trindade e Camilly Pinheiro. Supervisão: Profa. Rita Donato




 
 
 

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