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A invisibilidade seletiva da Avenida Paulista

No coração vibrante da Avenida Paulista, trabalhadores informais e artistas de rua batalham por atenção e respeito

Por Isabella Melo e João Pedro Barros*

Muitos dos trabalhadores nas ruas buscam respeito e atenção dos transeuntes | Reprodução/Freepik
Muitos dos trabalhadores nas ruas buscam respeito e atenção dos transeuntes | Reprodução/Freepik

Em um domingo de lazer na Avenida Paulista, nem todos estão desfrutando. A palhaça Michelle, 43, está presente na Avenida com o propósito de trazer sorrisos através da panfletagem de divulgação da ONG “Só Ria”. Mesmo com doces gratuitos para promover a felicidade, se vê rejeitada diante da massa. Assim como Pedro, 19, um jovem esperançoso com o próprio futuro, que trabalha com a panfletagem para divulgar a marca contratante. 

Segundo levantamentos da prefeitura da cidade de São Paulo, a Avenida Paulista recebe diariamente uma média de 1,5 milhão de pessoas. Aos domingos, das 9h às 17h, suas ruas permitem que as pessoas possam andar livremente. Dentro desse período, o Instituto de Pesquisas e Estudos de Transporte (IPT) estima que 30 mil pessoas transitam pela Avenida Paulista. Em meio a essa multidão, estátuas humanas, cantores, pessoas fantasiadas, entre outras atrações, tentam chamar a atenção de forma lúdica, na esperança de se tornarem visíveis e realizarem um trabalho

A realidade dos trabalhadores informais e artistas de rua é caracterizada por uma profunda invisibilidade. Embora estejam presentes, frequentemente são ignorados e tratados como meros componentes da paisagem urbana. Michelle e Pedro, assim como inúmeros outros, lidam diariamente com a indiferença. Essa invisibilidade seletiva é resultado de diversos fatores, como a pressa dos pedestres, a priorização do consumo e do lazer, além de um preconceito social latente que desvaloriza o trabalho informal. 

“Daqueles que são os mais pobres, daqueles que são os mais simples, daqueles que na verdade não tem muito, entre aspas, a oferecer a uma sociedade que o que vale é o tanto que você tem, o tanto que você ostenta. E aí se você não tem o que oferecer e você não tem o que ostentar, automaticamente você vai caindo na invisibilidade e tenta partir da invisibilidade e ganhar a vida. Esse é um retrato muito presente na

Paulista, sem dúvidas.” diz Pedro Amorim, professor de ética e convivência da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM). 

Um padrão das pessoas que utilizam da panfletagem seja para promover uma marca ou projeto é a necessidade de possuir algo que seja atrativo para o público. Michelle possuía pirulitos e bala, como forma de agradar e ter um minuto da atenção, para explicar o seu propósito, mas talvez aquilo que oferecia não era algo com um valor, apreço significativo para aqueles que passavam por ela, já o jovem Pedro a marca com qual estava divulgando para ter a atenção e participação do público, ganhavam uma camiseta e a partir desse engajamento poderiam ganhar outra premiação.

De forma muito sincera ele diz sobre a importância do brinde para atrair o público e assim conseguir divulgar a marca, sem o brinde ele trás que é mais difícil esse contato com o público. Ambos relatam mesmo com a diferença de propósito a mesma sensação de angústia em ser rejeitado antes mesmo de ser escutado. 

Essa angústia causada pela rejeição pode ser especialmente dolorosa para aqueles que trabalham com panfletagem. Em primeiro lugar, distribuir panfletos muitas vezes envolve interação direta com o público, tornando a rejeição mais pessoal. Quando alguém recusa um panfleto, pode parecer como se estivessem rejeitando não apenas o material, mas também a pessoa que está distribuindo. Além disso, os panfleteiros muitas vezes estão promovendo algo em que acreditam, então quando não há uma conexão com o público é difícil não atribuir fortes sentimentos. 

Os indivíduos invisíveis na Avenida Paulista, como a palhaça Michelle e o jovem Pedro, representam uma realidade frequentemente negligenciada em meio ao frenesi urbano. Esses trabalhadores informais e artistas de rua seguem com a panfletagem em um mundo tecnológico por ser a opção mais barata do marketing, e apesar da sua presença constante ou do esforço em trazer alegria, frequentemente se tornam apenas parte da paisagem para os transeuntes apressados. 

Assim, a Avenida Paulista, com sua vibrante atmosfera e oportunidades de lazer, esconde uma faceta de invisibilidade que precisa ser reconhecida e enfrentada. Os

trabalhadores informais e artistas de rua, precisam de mais acesso de marketing acessível e apoio aos pequenos empreendimentos, merecem mais do que um olhar passageiro; eles merecem respeito e reconhecimento por seu trabalho e esforço. A valorização desses indivíduos é um passo crucial para construir uma sociedade mais inclusiva e empática, onde cada pessoa possa ser verdadeiramente vista e ouvida.


*Texto produzido com a supervisão da professora Vaniele Barreiros

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