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Quando a voz vira movimento: o Slam cresce e o Slam BR se aproxima

  • Foto do escritor: Portal EntreFocos
    Portal EntreFocos
  • há 2 horas
  • 5 min de leitura

Maria Luiza Almeida Matiolli

Supervisão: Prof. Antônio Iraildo Alves de Brito


Entre territórios, memórias e denúncias, poetas de todo o Brasil se preparam para o maior

evento nacional da poesia falada, enquanto o interior paulista recebe, pela primeira vez, o

estadual do gênero.


O Slam surgiu em Chicago durante os anos de 1980 e chegou ao Brasil há cerca de 15 anos, crescendo pela periferia e ocupando um importante espaço na vida de diversos artistas.  Tratando-se de uma competição de poesia falada com regras já pré-estabelecidas como a poesia tendo que ser autoral com no máximo três minutos, sem acompanhamento musical, figurino ou adereços, com cinco jurados que são retirados na hora na plateia, podendo dar notas de zero a dez seguindo seus próprios critérios e representando diversas vivencias , divididos em três fases: a classificatória, semifinal e final. 


Acontece o Slam de cada região, o primeiro, segundo e terceiro colocados compete no Slam do estado e os vencedores se reúnem para o Slam BR. 

Em volta de um palco, a periferia se encontra as 14h do dia 02/11, no SESC 24 de Maio, para assistir a edição de 2025 do Slam SP contando com 62 poetas, entre essas vozes pela sua primeira vez, representando a Região 018, está Malu de 28 anos, a professora, doutora, MC de batalha, slummer e produtora cultural, contou durante entrevista sobre sua experiencia no palco da competição “Nossa, foi incrível. Principalmente porque foi minha primeira vez. Com um ano e meio já, ter conseguido essa conquista. E também, na minha chave, eu fiquei em quarto lugar. Eu não classifiquei por um décimo. Foi muito pouco. Então, deu para sentir o gostinho de ter ido ali, né?”, diz.


“Mas, assim, pessoas muito próximas a mim. Como a Há, por exemplo, classificou. Então, a gente ficou ali na torcida nos outros dias. Na torcida pelo pessoal do interior paulista. Então, sempre que vi alguém gritando o interior, eu estava lá gritando também. E aí, para mim, foi uma representação de mostrar novas discussões”, acrescentou Malu. 


Malu levou um poema sobre o 13 de maio e as marcas da escravidão, mas também falou sobre a necessidade de desmistificar a ideia preconceituosa da vida interiorana “Trazer a poesia que fala sobre o interior, para mim, foi levantar um novo debate para o pessoal da capital, de entender que eles são muito limitados em pensar que o interior se compõe por Campinas e Sorocaba”, afirma.


“Pra mim, pisar esse ano no palco do Slam SP foi mais que uma realização pessoal. Foi uma realização coletiva. Sabe? De levantar uma bandeira. De o interior existe, o interior não é inferior. A gente tem voz. E a gente tá aqui pra ser ouvido mesmo. Então, vamos debater de igual pra igual essas ideias.”  Os temas das poesias são diversos, mas sempre com um fator em comum: dores vividas por um povo marginalizado que encontra na poesia uma força, uma maneira de sentir pertencente e representados. 


Essa mesma força move Marcos Vieira de 17 anos, slammer, arte-educador e autor de três livros de poesia: Quem perdoa é Deus de 2021, Armado de palavras de 2022 e Despejados lançado em 2024. Para ele a sensação de estar no palco é única e especial “Como se durante aqueles três minutos, o mundo parasse e os corações das pessoas batessem junto ao meu, acolhendo minhas palavras, dores, alegrias e manifestos”, seus textos carregam denuncia e posicionamentos fortes inspirado principalmente por Carolina Maria, Emerson Alcance e Tawane Thedoro, com uma missão de evidenciar que apesar das mazelas ainda existem alegrias e que os sorrisos devem ser celebrados. 


O publico é fundamental para o evento, ele vibra, aplaude, concorda, respira junto. Cada ação de um publico engajado – ou não – interfere diretamente na poesia e no poeta “Quando eu olho para o público, ele consegue entender o que eu estou falando. E aí, essa troca acontece de uma forma mais fluida. E aí também é super difícil quando a gente está com um público imerso. Um público que fala no meio do islã. Você sente que o que você está falando não é importante. Ou que as pessoas não estão prestando atenção. Então, o papel do público é fundamental. E por isso que a gente tem tentado cada vez formar melhor o público de Slam”, declarou Malu. Isso reafirma a construção coletiva que é a competição, é o publico que ajuda a orientar o clima, o nervosismo do artista e o ritmo do evento.


Para ambos a escrita é alicerce, sinônimo de força e resistência em meio contextos difíceis, “[..] Ver a escrita salvando vidas, como um dia salvou a minha” Afirmou Marcos, “[…] A gente, às vezes, troca a depressão por duas horas de poesia.” Afirma Malu “A escrita é cura, colocar no papel coisas que eu nunca diria em conversa me deu força”, finalizou. 


A expansão do evento é evidente e se mostra cada vez mais necessária, crescendo o número de competidores, poetas que crescem nas redes sociais, escrevem seus próprios livros como Marcos e coletivos que criam espaços para mulheres, pessoas trans e corpos dissidentes como o Asmina – no qual Malu faz parte. O Slam SP se mostra cada vez mais crescente e sua próxima edição é prova disso: pela primeira vez o evento vai se descentralizar, sendo em Assis, graças ao trabalho da cena interiorana.


O crescimento da cena revela uma mudança como o país enxerga cultura e pertencimento, quanto mais lugares periféricos criam Slam mais portas se abrirão para que artistas possam dar voz para suas  artes, levando para jovens o poder da escrita e de se expressar, trazendo autoestima e a necessidade de se reconhecer na arte que é produzida em seu próprio território. Mas Malu afirma ainda é necessário muito mais reconhecimento “É uma competição que tem grande visibilidade, mas não tanto quanto deveria”. 


Os olhos  se voltam para o próximo grande evento: o Slam BR que ira acontecer em Madureira no Rio de Janeiro em 20 a 23 de novembro, contando com grandes nomes da cena como a Mileny – vencedora do Slam SP- representando São Paulo, Nega Jay representando o Rio de Janeiro, Hellbala representando Sergipe e Jessicalen Conceição representando Pernambuco. 

E para quem deseja começar na competição Malu e Marcos recomendam o mesmo: coloque seus sentimentos no papel, olhe para si mesmo e seja honesto com seus sentimentos e coragem para se apresentar “Você vai estar despido ali, a sua alma nua para um monte de gente e você vai ter que lidar com isso, com as pessoas gostando ou não da sua poesia, afinal de contas, é uma competição” Afirmou Malu. 


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