Seminário de Filosofia e Comunicação aborda desinformação e narrativas em disputa
- portalentrefocos
- 13 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de mai.
Na 15º edição, evento reuniu especialistas e estudantes para ampliar o diálogo sobre a razão e a produção de discursos na contemporaneidade
Pablo Paixão | Vitória Ellen | João Figliolo Fotos: Vitória Ellen | Lucas Toth | Laboratórios e Marketing Fapcom
Especial para a EntreFocos
Nesta terça-feira (13), a FAPCOM (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação) realizou o 15º Seminário de Filosofia e Comunicação com a presença dos professores Dr. Marcelo Perine e Dr. Paolo Demuru, que contribuíram com análise filosófica sobre o tema “Narrativas em Disputa” e debates a respeito da disseminação de teorias da conspiração e desinformação nas mídias sociais.
A mesa da manhã, mediada pelo Prof. Dr. Pedro Monticelli, contou com provocações embasadas nas obras dos filósofos Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau e Eric Lavaine a respeito da crise de narrativas na sociedade. Ao longo da palestra, as ideias centrais dos autores foram valorizadas a partir de cruzamentos sobre disputas discursivas em diferentes instituições. “A concepção de Lavaine se sobressai sobre as narrativas rousseauniana e hobbesiana”, explicou Perine, que respondeu às indagações de professores e estudantes de comunicação que expressaram dúvidas e opiniões sobre as diferentes formas de narrativas contemporâneas.
Perine apresentou concepções antropológicas dos autores com leituras profundas sobre as relações sociais pautadas pela violência, natural do ser humano. “A proposta do professor Perine era apresentar esse encadeamento lógico construtivo, a partir do próprio conceito substancial de natureza humana”, disse o aluno João Oliveira, do quinto semestre de Filosofia.
No período noturno, o professor Dr. Carlos Motta mediou debate como Demuru, que tratou da geração das “dimensões maravilhosas”, como nomeia, de várias teorias da conspiração disseminadas, especialmente, pela extrema-direita, no debate público atual. A pesquisa do professor sobre a temática partiu de três incômodos: a lacuna dos estudos sobre tais dimensões, os limites da crítica racional tradicional (que inclui os campos acadêmico e jornalístico) e a ausência de propostas efetivas para combater a desinformação.
Ao criticar a abordagem tradicional de “debunking” (refutação racional de teorias falsas) para desmascarar tais conspirações, o convidado levou em conta o vínculo afetivo criado entre os membros que acreditam nessas narrativas. Ao mencionar o escritor e filósofo Umberto Eco, em seu livro “Os Limites da Interpretação”, ele afirmou que os indivíduos passam a se sentir parte de algo maior. “Ao descobrir esses segredos, [o indivíduo] começa a se sentir parte de um pequeno grupo de eleitos que conhecem, entre aspas, a verdade.”
A tentativa de desmontar essas crenças com dados científicos funciona como “furar a bexiga numa festa de criança”, pois não basta desmontar a falsa narrativa sem levar em consideração o pertencimento de grupo criado nas pessoas. “As pessoas não querem deixar de se maravilhar”, esclareceu o pesquisador, ao propor abordagens mais sensíveis, que envolvam uma linguagem atrativa, especialmente ao público jovem, como o jogo “Go Viral”, criado pelo professor Sander van der Linden, da Universidade de Oxford, que gamifica o processo de debunking.
PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS - O formato do evento permitiu que egressos e estudantes apresentassem resultados dos projetos de iniciação científica e dos TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso). Quatro salas foram organizadas para debater pesquisas nas áreas da Comunicação e da Filosofia com temas que dialogaram com a proposta central apresentada na palestra dos convidados.
Aluna do sétimo semestre de Relações Públicas, Lorena Braga Santos apresentou pesquisa sobre transformação do posicionamento de marcas na área digital, com análise do uso das trends (tendências virais) do TikTok nas estratégias de comunicação. Dentre alguns dos exemplos que Lorena trouxe, estavam o “casamento” das marcas Burguer King e Netflix e o tom de humor usado pela plataforma Duolingo em suas campanhas - uma delas, usando o mascote, Duo, para dançar a música “Sorry”, de Justin Bieber (em alta na época). “Isso faz com que as pessoas relacionem essa marca com um tom leve, um tom de humor, uma interação direta e como, de fato, uma marca que é próxima do seu público final”, afirmou Lorena.
Para o Prof. Dr. Cadu Aguiar, coordenador do Núcleo de Pesquisa da FAPCOM, a iniciação científica é um momento interessante na vida de um estudante e que pode influenciar a carreira acadêmica. "Essas atividades permitem o desenvolvimento de habilidades de pesquisas, análises e pensamentos críticos que são importantes para o mundo profissional, pois o mundo está cada vez mais complexo e exige sabermos delimitar um problema, criar hipóteses", concluiu.
Supervisão: Profa. Rita Donato
Comments