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Sons do passado, ganhos do presente: O mercado de discos de vinil na era digital

Atualizado: 4 de jan.

O vinil foi o formato mais comercializado no primeiro semestre de 2023, com faturamento de R$ 5 milhões

Por Nicoly Santos*

Discos de Vinil voltaram a fazer sucesso no meio do sucesso dos streamings | Nicoly Santos
Discos de Vinil voltaram a fazer sucesso no meio do sucesso dos streamings | Nicoly Santos

Em 2023, o Pro-Música, entidade que representa as principais gravadoras e produtoras fonográficas do Brasil, anunciou que no formato físico, as vendas de discos de vinil foram o formato mais comercializado nos seis primeiros meses de 2023, com faturamento de R$ 5 milhões, seguido pela venda de CDs, que atingiram R$ 3 milhões.

Lojistas de vinil da cidade de São Paulo

Ao andar por São Paulo é possível encontrar diversos objetos históricos, que podem ser achados porque existem pessoas comprometidas em preservar a memória cultural do povo brasileiro. Um desses objetos é o disco de vinil ou LP (long play), uma chapa, geralmente de cor preta e contendo um rótulo no centro chamado de selo fonográfico, criado para armazenar áudio (principalmente canções) desde 21 de junho de 1948. Muitos acreditam que nos dias de hoje esse objeto é obsoleto mas, milhares de vendedores que geram sua renda da venda de discos de vinil provam o contrário.

Uma das diversas lojas espalhadas por São Paulo é a “Celson Discos” gerenciada por Celso Marcílio, lojista que trabalha no ramo há 25 anos e tem o dom de apreciar a música como ninguém, o disqueiro de 58 anos possui deficiência visual e contempla a arte apenas com a sensibilidade do ouvir. Mas, como alguém consegue navegar pelo mundo altamente visual dos discos de vinil? A resposta está na paixão, na memória e no profundo entendimento que só quem sente a música de forma tão visceral pode possuir. 

Celso pode não enxergar o mundo como a maioria das pessoas, mas ele vê a música de uma maneira única e após tantos anos no mercado ele explica como se sente quando dizem que discos de vinil são objetos mortos “Não me admiro não, muita gente pensa isso. Mesmo os amantes de música pensam isso, porque estão no mundo do streaming, Spotify, etc. Mas, isso eu escuto desde quando comecei a vender disco, por volta de 25 anos atrás e são as mesmas coisas que escuto hoje. Hoje com um pouco mais de frequência do que antes, mas são pessoas que geralmente não entendem o lado do colecionismo em si ou não são apaixonados por esse apego do formato e eu acho que ok”. 

Toda a renda de Celso é proveniente da venda de discos de vinil e CDs, que ele vende em sua loja física e virtual. O lojista conta que o mercado de discos mudou muito após a pandemia, já que o número de lojas diminuiu consideravelmente e o mercado ficou morno, pois os preços estão altos e a demanda baixa, são poucas pessoas pedindo discos e muita gente vendendo.

O ressurgimento do vinil apresenta um interesse comercial e cultural. Fãs de música por todo o Brasil apontam que o som analógico do vinil é superior se comparado com a música digital.

MODA VINTAGE: corrente da moda que busca recuperar modos de vestir de períodos passados. Popularizada entre os jovens, faz com que esse grupo procure cada vez mais ter a experiência de colocar um disco na vitrola e ouvir um álbum do começo ao fim. O vinil também se tornou um item de colecionador, com muitos lançamentos especiais e edições limitadas.


O valor dos vinis

Alguns vinis raros podem valer centenas ou até milhares de reais, muitos colecionadores valorizam a arte da capa do álbum, as notas do encarte e as letras das músicas escritas no verso da capa.

Capa do disco de Lula Cortês e Zé Ramalho "Paêbiru", um exemplar da primeira tiragem pode custar mais de R$ 10.000 | Reprodução/Polysom
Capa do disco de Lula Cortês e Zé Ramalho "Paêbiru", um exemplar da primeira tiragem pode custar mais de R$ 10.000 | Reprodução/Polysom

No centro da cidade de São Paulo, encontramos Gilberto Custodio de 46 anos, e dono da loja “Locomotiva Discos”, ele vende vinis há 20 anos e é amigo de longa data de Celso. Gilberto fala sobre essa mudança na popularidade do vinil nos últimos anos “Algumas pessoas cansam de ficar grudado no celular o tempo todo e ouvir discos é uma atividade prazerosa que muitos adoram. Ter algo para manusear é gostoso, sentar ou até mesmo deitar para ouvir um disco é uma atividade relaxante que ajuda muito no dia a dia’’. 

O disco foi muito popular a partir da década de 50 e fez muito sucesso junto com a fita cassete, no entanto nos anos 90 entrou em declínio por conta do CD, que teve uma popularidade curta - com uma forte retomada do vinil a partir dos anos 2000. Os grandes DJs e rappers, principalmente os americanos, influenciam muito o mercado fonográfico no mundo todo por ser comum na cultura do hip-hop que o DJ faça a batida da sua música a partir da mixagem de um vinil enquanto o rapper coloca a rima, além da a estética ser mais bonita, mais legal e chamar mais atenção. As bandas e cantores do mainstream como as norte-americanas Beyoncé e Taylor Swift e os brasileiros Jão e Marina Sena, também fomentam esta cultura ao lançar vinis para os fã clubes e os aficionados na área.

Gilberto analisa, a partir de experiência própria, sobre o futuro das lojas de vinil no Brasil:

“Cada vez mais pessoas descobrem o quão prazeroso é ouvir um disco e colecionar os mesmos. Fora que não é só sentar e ouvir. Sair de casa e passear pelas cidades atrás de discos é outra atividade muito prazerosa que faz parte do conjunto. Organizar a coleção, tirar foto dos discos e postar no Instagram, conversar com desconhecidos em fóruns da Internet sobre discos, frequentar as feiras e conhecer pessoas, enfim, são várias atividades paralelas que a pessoa pode fazer ao começar a comprar discos.”

Os discos-fantasmas nas mãos de colecionadores

Como distinguir um LP de cover’s de um LP original? Nos anos 70, era comum que algumas gravadoras distribuíssem discos de vinil com covers de músicas de sucesso ao redor do mundo, sem mencionar quem era o cantor por trás das faixas. Se uma gravadora não possuía Sidney Magal como parte de seu catálogo, então porque não regravar suas músicas com um cover que tenha a voz parecida com a dele e distribuir como se fosse original? 

Lançar um disco de covers era um excelente negócio: os músicos de estúdio recebiam salários fixos, não possuíam direitos autorais e o custo de produção do álbum era baixo, além disso, era comum as gravadoras produzirem coletâneas com músicas de diferentes gravadoras, reunidas em um mesmo LP, no entanto, sem especificar quem era o cantor do disco.  

A gravadora Brasidisc ficou conhecida por seus inúmeros discos-fantasma para atacadistas, eles criavam um produto próprio de coletâneas e divulgava no atacado, os lojistas davam ideia do que o mercado precisava e os produtores reuniam as músicas em um LP com artistas anônimos que tinham a voz parecida com os cantores originais.

Já a gravadora Continental, em 1974 lançou a primeira edição de “Os Motokas”, uma série de discos de cover com 30 músicas distribuídas em 10 faixas em formato de medleys, abrangendo diversos estilos musicais nacionais e internacionais populares na época, como MPB, Pop, Rock, Samba, entre outros. A sequência de discos fez um enorme sucesso no Brasil com a música "Triste Canção" (que estava no repertório do álbum) que se destacou na lista das mais executadas da primeira semana de agosto de 1974, segundo pesquisa do instituto Nopem. 

A partir desse sucesso, a Continental lançou 11 discos da série, praticamente dois por ano e para impulsionar as vendas contavam com modelos e atrizes famosas da época. E os artistas por trás dessas músicas? Em sua grande maioria “Os Famks”, grupo que em 1980 se tornou o Roupa Nova.

Capa do vinil autointitulado do grupo ”Os Famks” de 1978 | Reprodução/EMI-Odeon-Selo Continental
Capa do vinil autointitulado do grupo ”Os Famks” de 1978 | Reprodução/EMI-Odeon-Selo Continental

As fichas técnicas dos álbuns-fantasmas geralmente não possuíam nenhuma informação sobre os músicos. Como exemplo, em 1978 a Polydor lançou o LP com a trilha sonora do filme "Grease – Nos Tempos da Brilhantina” e pelo menos três discos de covers chegaram às lojas brasileiras ao mesmo tempo.

Capa Variações do vinil Grease - Nos Tempos da Brilhantina | Reprodução/Universal Music
Capa Variações do vinil Grease - Nos Tempos da Brilhantina | Reprodução/Universal Music

Nestes vinis há o nome do filme e o nome dos atores, porém, as músicas são descritas como “músicas do filme Grease”, pois são todas as músicas presentes no filme, mas, não são as gravações com os cantores originais e assim, muitos compradores adquiriram um exemplar por um preço menor e nunca perceberam a diferença.


A visão do produtor e do artista sobre o vinil

Com o surgimento do TikTok e a popularização da rede durante a pandemia, a indústria fonográfica que antes seguia um ritmo, teve que se adaptar a um novo estilo de vender música. A rede social que tem como alvo o público jovem possui hoje mais de 1 bilhão de usuários e ganhou popularidade por se tratar de uma plataforma livre para explorar a criatividade audiovisual de forma dinâmica e possuir um algoritmo que forma a timeline do usuário,  baseada em suas curtidas e tempo de visualização dos vídeos, o que resulta uma bolha de informação que transita sempre dentro de gostos pessoais. 

A empresa Winnin, uma plataforma brasileira de marketing tecnológico, realizou uma pesquisa sobre o impacto do TikTok na música e concluiu que as famosas trends, ou virais, levam as pessoas a procurar pelo single viralizado em aplicativos de streams e após algumas semanas a música se torna um sucesso não só nas redes sociais, como também nas paradas de sucesso das rádios e programas musicais. 

Com a pandemia muitos artistas não puderam fazer shows e com isso perderam uma de suas principais fontes de renda, logo, tiveram que buscar uma alternativa para continuar levando sua música de forma remota, assim o mercado passou a investir em músicas que possuíssem características comuns das que eram observadas nas trends, na maioria das vezes trazem elementos familiares, novos e legais, ritmos chicletes e que se conectam diretamente com uma coreografia fácil de se reproduzir, como exemplo as músicas “Malvada” do cantor Zé Felipe, “Malvadão 3” do Xamã, “Na Rebolada” de Os Quebradeiras, entre outros.

Com isso criou- se a “música feita para o TikTok”, um estilo de música que não há uma necessidade de ter conceito artístico ou arranjos bem elaborados, só precisa se tornar viral e garantir bons números nos charts. Rodrigo Gorky, de 43 anos, é um produtor musical brasileiro e já trabalhou com diversos artistas como Pabllo Vittar, Urias, Banda Uó, Luiza Possi, entre outros e para ele suas músicas não são feitas para viralizar por algumas semanas ou meses e sim para perpetuar para as próximas gerações, como um bom clássico.

Seguindo a linha dos clássicos, Rodrigo fala sobre os desafios enfrentados pelos produtores musicais no mercado de discos de vinil hoje, “Algo que você produziu sair em vinil já é uma grande vitória pra ser bem honesto, porque a velocidade que as coisas andam hoje em dia fazem tudo parecer velho em muito pouco tempo e sinto que um trabalho ser lançado em vinil dá uma importância que o disco “furou” essa bolha de ser algo descartável.”. Esta não é uma crítica, as músicas feitas para o TikTok, não deixam de ser música e ter valor artístico, mas com o mundo na era do ultracapitalismo, é de fato necessário colocar os interesses do mercado acima da arte? Ao não limitar as áreas de atuação do lucro exacerbado, esse pode acabar sendo nosso único aspecto cultural ao passar dos anos.

Produzir músicas não possui diferença para o digital ou vinil, ambos são feitas no estúdio e depois lançadas para o público, no entanto, Gorky conclui que desacelerar é uma coisa díficil no século 21, “Eu gosto muito [desse interesse] porque abre portas pra muita gente conhecer e correr atrás de coisas que não conheceria com tanta facilidade, pode parecer doido o que estou falando por conta da internet e tudo mais, mas é uma questão de “alocação de tempo para prestar atenção em algo”, a partir do momento em que você pega e põe um disco pra tocar, você está dando sua atenção para aquele momento, o que faz tornar a experiencia de ouvir música algo muito mais especial, sabe?”. 

O disco de vinil possui microssulcos ou ranhuras em forma de espiral que conduzem a agulha do toca-discos da borda externa até o centro no sentido horário, esses sulcos são microscópicos e fazem a agulha vibrar, essa vibração é transformada em sinal elétrico, que é posteriormente amplificado e transformado em som audível (música).

Parte da repopularização dos LPs se dá aos artistas da atualidade que decidiram lançar seus recentes trabalhos em formato de vinil, Jão, Matuê, Liniker, Pabllo Vittar, Djonga, Marina Sena são alguns dos artistas que lançaram álbuns e decidiram prensar sua arte em um processo mecânico complicado, do tipo analógico, que se completa em sete etapas.

A cantora Pabllo Vittar, considerada a drag queen mais famosa do mundo pela revista Forbes e ativista em prol dos direitos das pessoas LGBT, já acumulou mais de 300 milhões de streams no Spotify e em 2023 lançou o seu quinto álbum de estúdio “Noitada” com versão em vinil para os seus fãs e admiradores. A artista explica sua visão sobre como o LP pode ser uma forma de expressão artística além da música em si, “A construção de tudo que envolve o vinil nos permite mostrar um pouco mais do trabalho, com a capa, encarte, “recheio” e etc. Isso acaba complementando a música com visuais e arte que acompanham o disco.”

No que se diz respeito a construção, a discografia de Pabllo Vittar é um exemplo, em todas as eras é possível perceber o cuidado que a cantora tem com a estética que envolve os projetos a partir do gênero musical que irá explorar no momento. Em 2021, Pabllo nos lembrou - em um ano caótico - o quão diversa e espetacular é a cultura brasileira com o “Batidão Tropical”, projeto que reuniu regravações de forró e techno-brega, gêneros musicais famosos no norte do país.

Capa do álbum “Batidão Tropical” de Pabllo Vittar | Reprodução/Sony Music Entertainment
Capa do álbum “Batidão Tropical” de Pabllo Vittar | Reprodução/Sony Music Entertainment

Dois anos depois, a cantora retorna aos holofotes com o álbum “Noitada”, agora em uma era pós-pandemica, Vittar chamou todos para pista de dança com seu pop eletrônico vibrante e nos mostrou que a vida poderia voltar a ter embalos de sábado a noite.

Capa do álbum “Noitada” de Pabllo Vittar | Reprodução/Sony Music Entertainment
Capa do álbum “Noitada” de Pabllo Vittar | Reprodução/Sony Music Entertainment

Se para o ouvinte o LP é capaz de oferecer um mix de sentimentos, para um produtor é a materialização de meses ou até anos de trabalho, pois, o print de uma ficha técnica todos podem tirar, mas ter uma contracapa de um vinil com o seu nome escrito é para poucos, único e eterno. Pabllo Vittar complementa que a mídia física do seu álbum é a coroação de todo esse trabalho, é quando todos os elementos se conectam e dão forma ao disco de vinil, um objeto que resiste ao tempo, transcende as tendências passageiras da indústria musical e chega até o seu colecionador.  


O vendedor vai até o cliente

Na região da famosa Avenida Paulista está Domingos de Area Leão, de 50 anos, ele vende discos há 20 anos em uma banca na rua e é assim que ganha a vida. Para explorar esse mercado milionário do seu ponto de vista, Domingos respondeu algumas perguntas:

Como entrou nesse mercado? 

Por gostar muito de música, o começo de tudo foi comprando como colecionador. Comprava ao ponto de conseguir ficar com alguns repetidos e certa vez um amigo que também colecionava perguntou se eu não trocaria alguns discos já que eu tinha repetidos e eu aceitei. Depois, algumas outras pessoas que conheci e que também colecionavam fizeram uma proposta para comprar um disco meu aqui e outro ali, então vi que o negócio era interessante. Foi exatamente aí que comecei a vender. Começando a ir em lugares onde se concentravam as pessoas que compravam e vendiam discos e depois comecei a participar de feiras e assim a coisa aconteceu

Como você faz a curadoria dos discos que vende? De onde vêm os discos que você revende?

Com o aumento da quantidade de discos durante anos neste negócio, uma seleção daquilo que é "mais caro, mais raro e mais difícil de conseguir" é natural que aconteça. Sempre fazemos uma seleção e separação daquilo que é diferente nestes três aspectos citados acima. A aquisição de mais itens é feita através de pessoas particulares que tem em casa e quer vender porque não tem interesse mais naquilo, de revendedores que comercializam sempre em feiras e espaços próprios para isso e raramente de doações.

Qual é o disco mais raro ou especial que já vendeu?

A venda que fiz de um disco que considerei o mais caro, no entanto, não o mais raro, na verdade foram três peças do mesmo item: "Se o Rádio Não Toca” do Raúl Seixas. Vendi três iguais por um valor interessante.

Quais gêneros musicais ou artistas são os mais procurados pelos seus clientes?

Dentro dos muitos gêneros musicais que comercializo, o rock, a MPB/Bossa nova e o jazz, são os mais procurados. Artistas como The Beatles, Elis Regina, Tom Jobim e Miles Davis tem procura constante neste universo.

Quem são seus clientes mais frequentes?

Tenho como clientes uma variedade de pessoas, idades e gostos. Que podem ser colecionadores, amantes de uma música ou de um disco, revendedores e Djs. Mas neste time, os mais jovens (faixa etária de 15 aos 35 anos) são os maiores compradores.

Quais são os desafios e as vantagens de vender vinis na rua, ao invés de uma loja física?

São muitas as vantagens de vender na rua. Primeiro que todos os públicos consumidores estão na rua, todas as tribos estão lá, do sertanejo ao blues. E também há um ponto crucial: o preço, pois na rua não se tem despesas com impostos. Além disso, você não espera o cliente no seu endereço, você vai até o endereço do cliente (a rua).

O que o mercado de vinil representa para você em termos culturais, especialmente em um cenário onde o consumo é cada vez mais digital?

Dentro deste universo que envolve o LP o que é mais rico de tudo sem nenhum questionamento, é a história daquele álbum, o ano de lançamento, a música ou as músicas de sucesso, a produção e quem participou dela, as composições e autores, os músicos, a quantidade de peças existentes no mercado... tudo isso é cultural, é história e é enriquecedor.


O colecionador 

Do outro lado da moeda existem os colecionadores, personagens importantes na movimentação deste mercado cultural bilionário. Com coleções que variam de 10 a 10 mil peças, existem pessoas de várias classes sociais, nacionalidades, gostos musicais, profissões e etc. que são unidas por um propósito, ser amante da arte. Neste contexto, Thiago Marques Luiz, 45 anos, jornalista e produtor musical, coleciona discos desde os 6 anos de idade. E para desenhar o lado de lá, Thiago respondeu algumas perguntas:

Como começou seu interesse por colecionar discos de vinil? 

Eu sempre gostei de música e na minha casa ouvia-se muito. Tinham os discos da minha avó e da minha mãe e eu já me ligava.

Como teve acesso ao seu primeiro disco de vinil? Lembra o primeiro que adquiriu?

Ganhei de presente do meu avô o disco da Turma do Balão Mágico. Eu devia ter uma 4 anos. 

Quantos discos você tem em sua coleção atualmente? 

Uns 10 mil.

Qual foi a aquisição mais difícil ou rara que você conseguiu?

Como sou muito fã do Roberto Carlos, o primeiro disco dele “ Louco Por Você”, de 1961.

O mercado de discos de vinil mudou muito desde que você começou a colecionar? Como?

Passou por varias fases. Eu vivi o auge do vinil nos anos 80, o declínio nos anos 90, quando entrou o CD, e depois a fase de retomada de 2010 pra cá, quando as novas gerações passaram a valorizar.

O que te motiva a continuar colecionando discos, mesmo em um mundo cada vez mais digital?

Eu gosto do hábito de colocar o disco na vitrola, nem me incomoda aquele chiadinho (a não ser que seja algo exagerado). Gosto de ouvir o som do vinil, tem mais grave, mais peso. Gosto de observar as capas e as informações da contracapa, do encarte.  É terapêutico para mim comprar disco e depois limpar ele, cuidar, acondicionar, ouvir. Amo.


O renascimento do mercado de vinis representa uma união entre a nostalgia e a resistência cultural em meio à era digital. Embora o streaming tenha dominado o consumo musical, o vinil continua a crescer como um símbolo de autenticidade e profundidade. Ele transcende seu valor musical ao proporcionar uma experiência tangível e estética que muitos, especialmente colecionadores e jovens entusiastas, valorizam. Seja pela experiência sonora diferenciada ou pelo contato com o material físico, o vinil reafirma seu espaço e desafia a efemeridade da era digital. Para os que buscam além do momentâneo, o ritual de colocar a agulha no disco e ouvir o primeiro estalo traz uma sensação de permanência, o famoso “bolacão” é testemunho de uma era que nunca cessa de existir enquanto alguém desejar ouvi-lo.


*Texto supervisionado pela profa. Vaniele Barreiros

1 Comment


Felipe rodrigues
Felipe rodrigues
Jan 17

Texto maravilhoso, muito bem escrito ! Consegue explicar o cenário atual do vinil no Brasil por diferentes pontos de vista.

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