
A felicidade é uma arma quente, quente
- Miguel Calado
- 21 de mai.
- 2 min de leitura

“Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho”. Belchior canta e eu, do alto dos meus dezoito, com a cabeça cheia de ideias e o coração mais cheio ainda de certezas inquietas, ouço. Ouço como quem escuta uma espécie de oração torta, uma prece feita de poesia. Porque tem algo de libertador nessa canção, nessa certeza de quem sabe que o caminho se faz com passos próprios, mesmo que firmes, mesmo que trêmulos.
Hoje, publico minha primeira crônica para o EntreFocos. E isso, para mim, não é pouca coisa, é imenso. É como se me dessem um lugar à mesa, um espaço para ser, para dizer, para sentir em voz alta. Porque quando a gente sonha e escreve “em letras grandes de novo, pelos muros do país”, a palavra deixa de ser só palavra e vira ato. Vira presença. Vira manifesto. E rebeldia, no jornalismo, é isso: é ocupar com coragem os próprios silêncios, é transformar dúvida em pergunta, e pergunta em manchete.
Me perguntaram esses dias o que eu espero do futuro. E eu, sem jeito, respondi qualquer coisa sobre continuar escrevendo, talvez contar umas boas histórias, talvez ouvir umas outras melhores ainda. Mas por dentro, o que eu queria dizer mesmo era: eu só espero seguir. Com essa sede de mundo, com esse amor estranho pelas entrelinhas, com esse desejo bonito de entender por que o Sol nasce onde meu coração bate mais forte. E eu já sei onde bate. Já sei de que lado nasce o Sol pra mim.
O tempo tem mexido com a gente. Crescer, no fim, é encarar isso: ver as promessas da infância se tornarem boletos, ver os ídolos ficarem carecas, e ainda assim acreditar. Acreditar que vale a pena. Que escrever ainda vale a pena. Que contar histórias é, de alguma forma, um jeito de continuar vivendo.
Hoje, ao publicar essa crônica, sinto uma alegria firme, quase indomável. Como quem reencontra uma parte de si e sorri com canto de boca. É felicidade que bate, meio quente, meio torta, mas viva. E verdadeira.
Essa crônica não é um ponto de chegada. É ponto de partida. É bandeira fincada no chão que escolhi trilhar.
E se Belchior me perdoa a ousadia, eu repito com ele: não saio do caminho, não. Prefiro andar sozinho, sim, mas por escolha. Deixem que eu decida a minha vida. Não preciso que me digam de que lado nasce o Sol. Porque bate lá meu coração.
E ele bate forte.
Bate firme.
Bate livre.
Sob a supervisão da Profa. Rita Donato
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