
Representantes do povo que não ouvem o próprio povo
- Filipe Pereira

- 19 de set.
- 3 min de leitura
Apesar de muito barulho, principalmente nas redes sociais, Câmara decidiu retornar com votação da PEC da Blindagem

A Câmara dos Deputados continua não ouvindo a população e as pesquisas de opinião, tratando seus pensamentos como únicos. Nesta semana, a casa legislativa colocou em pauta dois assuntos polêmicos e que não possuem amplo apoio de toda a população: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem e a PEC da Anistia, que podem desgastar ainda mais a imagem dos parlamentares.
O primeiro projeto, que já havia sido rechaçado pela casa após a pressão popular, retornou à Câmara como uma resposta ao Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente pelas investigações autorizadas pelo ministro Flávio Dino sobre emendas parlamentares, mas o que mudou dessa vez? Com o jogo político de pautar a segunda proposta citada no início desta coluna, o centrão ganhou o apoio de deputados bolsonaristas para a aprovação do texto.
O câmbio seria pelo apoio dos deputados do centro pela tramitação rápida do texto da anistia aos presos do 8 de janeiro e dos outros acusados da trama golpista. No entanto, as expectativas de ambos os grupos podem ser frustradas completamente ou em parte.
Após aprovar o texto da PEC da Blindagem com uma emenda aglutinativa, que adicionava o voto secreto na votação de inquéritos – retirado um dia antes com a pressão dos opositores do projeto –, além de deputados votando remotamente e apresentação relâmpago do texto, parlamentares contrários ao projeto se mobilizaram por uma ação no STF contra a legitimidade do processo. O ministro Dias Toffoli, relator da ação, deu o prazo de 10 dias para que a Câmara dê explicações sobre o projeto.
Já outra possível derrota dos deputados é com a chegada do texto no Senado, próximo passo para que a PEC seja aprovada completamente. Membros da casa, como o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, o senador Otto Alencar (PSD-BA), afirmou que o texto não deve passar na casa, assim como Damares Alves (PL-DF) disse que a proposta “será recebida pela sociedade com muito horror”.
Talvez a eleição que se aproxima em 2026 com a renovação de dois terços da casa faça os senadores serem mais cautelosos, mas o grande questionamento que pode ficar é por que a Câmara parece não se importar tanto quanto os colegas de Legislativo.
Analisar esse assunto e chegar a uma resposta é como responder a pergunta de R$ 1 milhão, no entanto, pelo menos no caso do presidente da casa, Hugo Motta, é possível chegar a uma conclusão. Para conseguir ganhar a presidência da casa com a ampla vitória que teve e com o apoio do PT de Lula e o PL de Bolsonaro, Motta teve de se comprometer com muita gente de diferentes lados e a conta na política é cobrada com juros altos.
Já os outros parlamentares que acreditam que propostas como as mencionadas são boas e ignoram o que a população diz, podem estar com medo que alguma bomba estoure para os seus lados ou que respingue neles, além da prepotência e o poder cada vez maior que a Câmara vem ganhando desde a época de Eduardo Cunha no mandato de Dilma Rousseff.
Vale lembrar que uma pesquisa do Datafolha de agosto mostrou que cerca de 78% da população acredita que os parlamentares atuam pelos próprios interesses. A única coisa que os parlamentares esquecem é disso, que foram eleitos pelo povo, e ao tomar medidas cada vez mais impopulares pode custar um valor que, quando a conta chegar, pode ser tarde para reverter.
*Com a supervisão da Profa. Rita Donato








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