
A gente saiu pra fazer nada
- Miguel Calado
- há 2 dias
- 1 min de leitura

A gente saiu pra fazer nada.
e foi tudo.
foi por acaso
eu saía, distraído,
com o peso do dia nos ombros,
e a pergunta veio leve,
do tipo que muda o rumo sem pressa:
“tá livre?”
tava.
e de repente, lá estávamos,
andando entre estantes como quem busca
um livro,
mas encontra um riso.
livraria tem dessas coisas,
romances ao redor,
olhares que se cruzam
como se soubessem mais do que nós.
depois, o café — sempre ele,
onde tudo parece mais bonito
porque tudo parece mais perto.
um cappuccino, uma colherada da melhor banoffee do mundo
(e era mesmo).
a atendente sorriu e disse:
“amor é isso aí.”
e eu engoli o doce e a frase
com a mesma dificuldade.
já estava me sentindo dentro de algo
que talvez nem tivesse nome,
mas que aquecia como sol de tarde em dia frio.
e ainda teve o parque.
as árvores, cúmplices.
o tempo, sem pressa.
a conversa, solta, sincera
como se a gente se conhecesse de outras vidas,
ou de livros não lidos.
ficamos ali,
deitados em silêncio entre palavras,
como quem se entende mais no intervalo
do que no discurso.
até que chegou a hora de ir.
e ninguém quis.
mas fomos.
e acabou.
e é por isso que hoje eu escrevo,
pra lembrar que tem dias que a gente sai pra fazer nada —
e encontra tudo.
*Sob a supervisão da professora Rita Donato
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