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Um café, por favor (Desespero de primeira data)

  • Foto do escritor: Miguel Calado
    Miguel Calado
  • há 6 dias
  • 2 min de leitura
'E, sem perceber, eu já estava querendo morar ali, entre o aroma do café e o som da voz me contando as diferenças entre torra clara e escura' | Ilustração: Luma Venâncio
'E, sem perceber, eu já estava querendo morar ali, entre o aroma do café e o som da voz me contando as diferenças entre torra clara e escura' | Ilustração: Luma Venâncio

Hoje, algo mudou.

E foi tão simples que parece mentira.

Como se o mundo tivesse girado um pouco mais devagar só pra dar tempo de reparar no que, até então, era só silêncio.


Convidei pra ir ao museu.

Trabalho da faculdade, pretexto qualquer — ou talvez o mundo conspirando em forma de agenda.

Antes, saímos. Comemos alguma coisa que nem lembro direito, porque, honestamente, tudo parecia meio embaçado perto da nitidez que trazia.

Depois fomos a um café.

Pediu expresso, eu pedi Coca-Cola.

Riu de leve.

Me explicou sobre cafés como quem apresenta um universo novo, sem fazer alarde.

E, sem perceber, eu já estava querendo morar ali, entre o aroma do café e o som da voz me contando as diferenças entre torra clara e escura.


Foi nessa hora que comecei a me perder.

Ou a me encontrar, ainda não sei.

Só sei que repeti em pensamento o que sempre dizia antes:

Se for minimamente legal, eu tô acabado.

Foi mais do que isso.

Foi perfeito.


No museu, o tempo virou brisa.

As paredes falavam em silêncio.

As obras nem sabiam que estavam sendo testemunhas de um momento tão delicadamente eterno.

E ali, entre uma sala e outra, aconteceu.

Um beijo.

O primeiro.

Simples, leve, mas com gosto de coisa antiga. Daquelas que já existiam antes de acontecer.


Não sei explicar o que senti.

Só sei que por um segundo, talvez dois, o mundo inteiro ficou em paz.

E eu, que sempre achei que essas coisas só existiam nos filmes, vivi minha própria cena de cinema.

Sem trilha sonora, sem plateia.

Só a gente, e um gesto que disse o que nenhuma palavra conseguiria.

Hoje, encontrei algo raro.

Não sei se era destino, coincidência ou apenas o universo me dando um presente sem data marcada.

Só sei que tinha um tipo de luz ali, suave, que me fez lembrar de como é bom se surpreender.


E se tudo isso não passar de um dia bonito, que seja lembrado como o primeiro.

O primeiro olhar demorado.

O primeiro riso dividido.

O primeiro café.

O primeiro beijo.

O primeiro instante em que senti que talvez, só talvez, eu tivesse encontrado o amor da minha vida.


Me vê um café, por favor.


Sob a supervisão da profa. Rita Donato

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